Este texto que trago para vocês, é da autoria da grande e inesquecível
escritora Clarice Lispector, a qual tinha uma coluna feminina nos anos 50 - 60. Os textos retratados dela desta época, foram republicados em um livro ‘’Correio Feminino’’ (recomendo a
leitura).
Afinal seus artigos são tão atuais, parece que a expendida
Clarice, fala frente a frente com agente! E como sabemos ‘’O que é bom não sai
de moda’’ então vale a pena ler, ou até mesmo reler este incrível texto,
falando um pouco mais sobre ‘’moda’’, pelos conceitos desta grande mulher e
escritora.
''Ano a ano, variam as modas. Saias sobem, saias
descem, saias armam, como abajures ou se estreitam como malha de bailarina. E
as mulheres obedecem à moda. Decotes crescem ou minguam, cinturas se alargam ou
se estreitam, penteados se complicam ou se desmancham, até a cor dos lábios,
das unhas, das faces, dos cabelos se modifica. E as mulheres obedecem à moda.
Os saltos se afinam, engrossam, se curvam, deformam ou ajudam a figura. As
fazendas, brilham, tornam-se leves, com flores, com bordados, ou se puritanizam
em cores escuras, em tecidos grosseiros. As mulheres obedecem sempre. Todas as
mulheres? Não. A mulher inteligente não é escrava dos caprichos dos
costureiros, dos cabeleireiros ou dos fabricantes de cosméticos. Antes de
adotar a última palavra da moda, ela estuda o efeito da mesma sobre o seu tipo.
A mulher inteligente sabe que mais importante que parecer "chique" é
parecer bonita. Não quero dizer que ela ande fora da moda, use roupa e
penteados antiquados. Mas o que ela usa é o que lhe fica bem, ajuda a sua
figura, realça a cor e o brilho dos olhos e cabelos, a cor de sua pele,
remoça-a e torna-a ainda mais interessante para os olhos masculinos. Espero que
minhas leitoras pertençam a esse tipo de mulher. Gostaria que todas essas
"escravas da moda", que andam por aí, muitas vezes despertando o
riso, pensassem um pouco antes de obedecer cegamente às ordens, nem sempre
equilibradas, dos costureiros famosos, cujo interesse de despertar a atenção
pela extravagância e pelo exagero parecer crescer dia a dia. Bem triste ideia
dão da mentalidade feminina essas pobres ingênuas. Andem na moda, claro! Adotem
penteados, pinturas, adereços modernos! Mas modernizem, antes de qualquer
coisa, a sua mentalidade! Raciocinem, estudem a si próprias, em detalhes,
lembre-se de que o que fica bem a uma Elizabeth Taylor, miúda, frágil, com
beleza de boneca, ficaria ridículo em Sophia Loren e vice-versa. No entanto,
ambas são lindíssimas. Observem como se vestem as mulheres tidas como as mais
elegantes do mundo. A duquesa de Windsor, por exemplo. Nunca se entrega aos
exageros da última moda, veste-se discretamente, e é a rainha da elegância. Sem
ter sido jamais uma mulher bonita, conseguiu conquistar um rei. Por ser uma
mulher inteligente, sabe valorizar e tirar partido dos poucos encantos que
possui.''
(Clarice Lispector - Jornal Correio da Manhã - 11 de
dezembro de 1959)